Microbioma intestinal e o risco de doenças cardiovasculares em pacientes com DRC
Recife, 21 de novembro de 2025
Nos últimos anos, a ciência tem voltado os olhos para o papel do microbioma intestinal na saúde renal. Pesquisas recentes mostram que as bactérias que habitam o intestino desempenham papel crucial na produção de toxinas urêmicas, substâncias que, quando acumuladas, contribuem para aumento do risco de doenças cardiovasculares em pacientes com doença renal crônica (DRC). “As pesquisas também abordam o uso de sorventes orais, probióticos e mudanças dietéticas para alterar o microbioma intestinal e reduzir a carga dessas toxinas”, ressalta Roberta Barreto, nutricionista do Grupo Uninefron.
De acordo com a especialista, pacientes com DRC geralmente apresentam um desequilíbrio na flora intestinal, conhecido como disbiose. “Nesses casos, há uma diminuição de bactérias benéficas, como as bifidobacterium, e um aumento de micro-organismos potencialmente patogênicos e pró-inflamatórios, como escherichia coli, klebsiella pneumoniae e enterococcus”, afirma Roberta Barreto, alertando que esse desequilíbrio altera o metabolismo intestinal e estimula a produção de substâncias que, em condições normais, seriam eliminadas pelos rins, mas acabam se acumulando no sangue de quem tem função renal comprometida.
“Esses compostos, como o p-cresol e o indoxil sulfato, são convertidos em toxinas urêmicas, que afetam o funcionamento do sistema cardiovascular e aceleram a progressão da doença. Essas toxinas não apenas sobrecarregam os rins, mas também aumentam o estado inflamatório do organismo e interferem na saúde dos vasos sanguíneos”, explica Roberta Barreto.
Comprometimento da barreira intestinal afeta os pacientes renais
Roberta Barreto ressalta ainda que outro fator preocupante é o comprometimento da barreira intestinal, comum entre pacientes renais. A doença enfraquece as células que revestem o intestino, tornando-o mais permeável. Isso permite que bactérias e endotoxinas, como o LPS (lipopolissacarídeo), uma molécula tóxica presente na parede de bactérias gram-negativas, entrem na corrente sanguínea. “Essa passagem de substâncias indesejadas para o sangue desencadeia um processo de inflamação sistêmica crônica, que agrava o quadro renal e cardiovascular. É um verdadeiro ciclo de retroalimentação entre o intestino e os rins”, explica a nutricionista.
“Além disso, o acúmulo de produtos finais do metabolismo proteico, típico da síndrome urêmica, pode causar sintomas gastrointestinais importantes, como náuseas, vômitos e diarreia. Esses sintomas prejudicam a absorção de nutrientes e aumentam o risco de desnutrição. Nos pacientes com DRC, observamos uma perda significativa na absorção de proteínas de alto valor biológico, o que impacta diretamente no estado nutricional e na recuperação clínica”, complementa Roberta Barreto.
Diante desse cenário, as intervenções voltadas à saúde intestinal vêm ganhando espaço como parte essencial do tratamento nutricional. Estratégias que incluem o uso de sorventes orais, probióticos, prebióticos e ajustes alimentares individualizados têm mostrado bons resultados na redução da produção de toxinas urêmicas e na melhora da resposta inflamatória. “O manejo do microbioma intestinal é uma ferramenta poderosa na abordagem do paciente renal. Uma dieta equilibrada, rica em fibras, frutas e vegetais, aliada à suplementação adequada, pode ajudar a reequilibrar a microbiota e a preservar a função renal”, ressalta a nutricionista.
Para ela, o entendimento do chamado “eixo intestino-rim” representa uma mudança de paradigma no cuidado ao paciente com DRC. “Hoje sabemos que o intestino e os rins estão profundamente interligados. Cuidar da saúde intestinal é também cuidar da saúde renal e cardiovascular. É uma abordagem que traz mais qualidade de vida e pode retardar a progressão da doença”, conclui a nutricionista do Grupo Uninefron, Roberta Barreto.