
Morte de cantora de forró causada por insuficiência renal traz alertas
Recife, 18 de março de 2022
Foram longos dias de batalha pela vida, em meio a um árduo trabalho dos médicos e preces dos fãs. No entanto, mais de dez dias após ser internada com problemas renais, a cantora sergipana Paulinha Abelha, vocalista da famosa banda de forró Calcinha Preta, faleceu no dia 23 de fevereiro. O diagnóstico tardio de insuficiência renal agravou o problema. “Em muitos casos, a doença renal é usualmente silenciosa e os pacientes só percebem o quanto os rins estão bastante comprometidos quando o estágio da doença já está muito avançado e as chances de recuperação são pequenas”, afirma a nefrologista Vivianne Pinheiro, da Uninefron.
A artista foi internada após um show em São Paulo e encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) poucos dias após dar entrada no hospital. A cantora realizou procedimento de diálise desde o início do tratamento. “Quando os rins param de funcionar, conseguimos substituir algumas das funções renais através da hemodiálise, um procedimento através do qual uma máquina filtra e limpa o sangue, eliminando substâncias tóxicas para o organismo, bem como resíduos prejudiciais à saúde, como o excesso de sal e de líquidos. Esse procedimento, pode ser interrompido à medida que os rins se recuperem”, esclarece Vivianne Pinheiro. Fato que não aconteceu com a vocalista de Calcinha Preta, que além da insuficiência renal apresentou um quadro neurológico grave.
A nefrologista Vivianne Pinheiro explica ainda que a insuficiência renal pode levar a quadros neurológicos graves. “Geralmente isso ocorre porque nosso corpo produz substâncias que são resíduos do nosso metabolismo e que não servem para o nosso organismo. No caso do metabolismo proteico, há o resíduo chamado amônia, que é muito tóxico para o cérebro. Embora essa substância seja convertida pelo fígado em ureia, que reduz sua toxidade, ainda assim, ela é uma ameaça para o cérebro”, afirma a médica, lembrando que, uma vez que o rim é responsável por eliminar a ureia do organismo, quando o indivíduo tem um problema renal, essas substâncias começam a se acumular e chegam até o cérebro, causando problemas neurológicos.
Segundo os médicos que cuidaram de Paulinha Abelha, há uma hipótese de que a cantora tenha sofrido lesão renal por alguma substância em circulação no seu sangue decorrente de tratamento e medicamento usado. “O uso de medicações herbais e suplementos dietéticos, geralmente não testados para eficácia e segurança, e com ingredientes na maioria das vezes desconhecidos, pode tornar o paciente predisposto à doença renal, uma vez que os rins são particularmente vulneráveis à lesão tóxica por ser um órgão bastante vascularizado. A reversibilidade depende muito da causa que levou o paciente à insuficiência renal, mas geralmente os quadros agudos são reversíveis, embora tenha o risco considerável de se tornar um portador de doença renal crônica no futuro”, conclui a nefrologista Vivianne Pinheiro, da Uninefron.